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O que Elon Musk deveria aprender com a série “Halt and Catch Fire”

Somente as boas séries nos podem ensinar tanto como este drama tecnológico, poderia orientar o famoso fundador da Tesla INC a não meter-se em mais problemas.

Enganam-se redondamente os que pensam que a sétima arte, igual que qualquer outro tipo de narrativa somente nos serve para entreter, para passar um bom bocado deleitados no sofá ou inclusive em frente ao computador ou do telemóvel. Os responsáveis dos filme ou séries de televisão são pessoas lúcidas, habilidosas e interessadas em mostrar-nos alguma espécie de verdade, seja ela sobre o mundo no qual desenvolvemos as nossas actividades diárias ou uma actividade mais específica, não há dúvida de que algo acabaremos por aprender. É o que ocorre com o drama tecnológico Halt and Catch Fire (Christopher Cantwell y Chris C. Rogers, 2014-2017), uma interesante série de televisão do AMC, que poderia ensinar umas quantas coisas ao visionário Elon Musk.

Tendo em conta que a série mostra aos espectadores, com um entusiasmo contagioso, uma inquestionável agilidade, um engenho à prova de bomba e uma precisão cirúrgica, o desenvolvimento creativo da inovação técnica e da atroz competência empresarial, para felicidade dos geeks – amantes da informática – e também dos que adoram dramas protagonizados por personagens com emoções complexas e envolventes, não há nenhum tipo de razões pelas quais não se possa dizer que Halt & Catch Fire seja idónea para sériefilos exigentes, porque realmente é uma série que merece uma oportunidade. E se alguém como o magnata sul africano Elon Musk se sentasse a ver, aprendería úteis lições sobre como deve encarar os desafíos tecnológicos e as polémicas empresariais, nas quais de vez em quando tem por habito meter-se.

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Se Musk pudesse encontrar um reflexo de si mesmo em algum personagem do drama do AMC, tirando certas atitudes negativas que não lhe conhecemos, sem dúvida que o reveríamos em Joe McMillan (Lee Pace), o grande visionário de díficil carácter e motor de grande parte dos projectos técnicos e dos conflitos em Halt and Catch Fire, como Musk nas companhias Tesla, SpaceX, Hyperloop, Neuralink, SolarCity, OpenAI e The Boring Company. Se este declarou entre os seus propósitos ajudar a mudar o mundo de maneira positiva, colocando travão no aquecimento global ou empurrando-nos para uma “uma civilização interplanetária” para não nos extinguirmos, McMillan empenha-se em levar a cabo as suas revolucionárias ideias sobre tecnologia informática e levá-la ao próximo nível desde um pequeno computador dos anos oitenta do século passado; os dois partilham o gosto pela inovação constante que impulsa os seres humanos e os conduz mais além do que imaginavam.

O  certo é que Musk não necessita que o convençam do quão conveniente pode ser rodear-se de pessoas talentosas, tal como McMillan recorre à extraordinária “come-código” Cameron Howe (Mackenzie Davis), aos pragmáticos engenheiros Gordon e Donna Clark (Scoot McNairy y Kerry Bishé) e à impagável experiência empresarial de John Bosworth (Toby Huss), para que os seus planos cheguem a bom porto, desde o fabrico de automóveis eléctricos, placas solares, foguetes para a exploração espacial até um económico transporte urbano e um comboio que viaja quase que à velocidade do som através de tunéis e inteligências artificiais. Não obstante, não lhe viria nada mal assistir aos erros que comete McMillan em Halt and Catch Fire para que ele não os repita. Uma vez que a falta de autocontrolo, de um travão para esses arranques impulsivos de dizer e fazer o que bem lhe apetece sem parar para pensar nas consequências é o que falta a ambos.

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É desta forma que os dois prejudicam as suas respectivas companhias e aos seus companheiros de negócios, e se Musk compreendesse que os fracasos de McMillan e seus amigos tem a sua origem no seu própio egoísmo caprichoso, nas suas manobras pouco éticas, nas manipulações e incluso em traições aos seus aliados, talvez actua-se de outra forma. Pois essa conduta, entre outros efeitos, gera conflito, problemas judicais e desconfiança entre os investidores, que é o que está a acontecer com Musk, e que por fim leva a prejudicar os projectos que empreende. Assim, talvez deixaria de “twittar” impertinências e, por pura lógica económica, se preocupasse mais em fazer que a Tesla, Inc. se rentabilize e se desfaça de todas as sombras de dúvidas a esse respeito, não voltaria a fumar outro charro de marijuana em público nem a discutir ferozmente com a imprensa ou investidores e por fim fugiria do oportunismo como se de um direito se tratasse. As pessoas adoram-no porque é um sonhador com os meios para por em práctica as suas magnificas ideias futuristas, da mesma forma que os espectadores admiram o carismático Joe McMillan e companhia em Halt and Catch Fire. Mas cuidado, a opinião pública é feroz e é sempre melhor aprender com os erros alheios, ainda que sejam de personagens de uma lúcida série de televisão.