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Entrevista exclusiva com Dave Erickson, produtor de ‘Fear the Walking Dead’

Com a aproximação da data de estreia da tão aguardada segunda temporada deFear the Walking Dead, Dave Erickson produtor executivo e showrunner da série conta-nos numa entrevista exclusiva todos os detalhes do desenvolvimentos dramático da produção, as gravações no oceano e revela-nos mais sobre as gravações no México.

– Em que é que “Fear the Walking Dead” se distingue de “The Walking Dead” e é possível ficar viciado no “Fear” sem ter visto “The Walking Dead”?

É realmente fácil, e não é necessário saber nada sobre o “The Walking Dead” para ficar viciado no “Fear”. Depois de falar com muitas pessoas – com atores, produtores e alguns espectadores – todos concordam que a forma como nos aproximamos da história significa que não necessitamos de qualquer conhecimento prévio da outra série. Estruturamos a série de tal forma que se for fã do grafismo original da narrativa e acompanhar “The Walking Dead”, reconhecerá imediatamente a mitologia e verá como as histórias se encadeiam. Contudo, irá apreciar ainda a abordagem diferente que o “Fear” assume; o seu ponto de vista distinto.

– Todas as famílias experienciaram perdas terríveis na primeira temporada. Isto vai uni-las na segunda temporada e ajuda-as a perceber como poderão sobreviver? 

Bom, isso é interessante porque uma das coisas que era importante para Robert Kirkman quando começamos a desenvolver o drama era o tema da violência e como é que cada um dos personagens a iria experienciar. E não me refiro apenas à “morte” dos infetados mas sim à forma como cada um dos personagens reage quando são obrigados a abater uma pessoa.

No final da primeira temporada enfrentaram um bando de zombies e a maior parte (com a exceção de Travis, Chris e Alicia) tiveram que lutar com um dos infetados e abate-lo. Portanto, isso levanta a questão dos efeitos da violência e da moralidade de cada um – como irão processar tudo à medida que avançamos na segunda temporada?

Agora, na segunda temporada, estão no barco do Strand, no ‘Abigail’, e penso que se aperceberão, rapidamente e à medida que avançam os primeiros episódios, que não foram as únicas pessoas com esta ideia brilhante. Não são os únicos que decidiram tornar-se refugiados de Los Angeles e aproveitar refúgio na água. Isso irá criar conflitos adicionais. Irá ter duas implicações: o que farão quando forem confrontados com infetados e o que farão quando confrontarem outros sobreviventes? Como será esta aproximação e onde reside o grande perigo?

travis e daniel fear the walking dead boat

– Strand disse no final da primeira temporada: “A única forma de sobreviver a um mundo de mal é abraçar essa maldade.” Como é que isto se reflete na segunda temporada?

Penso que o grande tema da segunda temporada de “Fear” é que uma vez que se estabeleceu que o mundo realmente acabou, uma vez que se percebeu que não havia retorno, em que tipo de pessoa é que cada um dos personagens se tornaria? Serão capazes de se render a isso? Serão devorados e consumidos pelo apocalipse ou mudarão a sua natureza? Conseguirão continuar a lutar e a agarrar a sua humanidade?

– Falando em Daniel Salazar (interpretado por Ruben Blades), havia alguns momentos negros sobre o seu passado na primeira temporada. Haverá algo mais sobre isto desvendado na segunda temporada e como irá afetar a sua relação com a filha Ofelia (interpretada por Mercedes Mason)?

Na primeira temporada, percebemos que Daniel não era, definitivamente, um barbeiro humilde. A verdade é que cometeu atrocidades, alguns atos verdadeiramente violentos no seu passado. A sua mulher Griselda tinha conhecimento. Não sabia exatamente de todos os detalhes, mas tinha conhecimento. No entanto, estava disposta a apoiá-lo e a absolvê-lo, mas agora partiu. A sua filha Ofelia acaba de tomar conhecimento deste seu lado e faz o seu próprio julgamento. Ofelia passou grande parte da sua vida a proteger os pais imigrantes, sentindo que estavam um pouco atrasados, que eram do “velho mundo” e que lutavam para adaptar as suas vidas aos Estados Unidos.

daniel salazar fear the walking dead boat

– Há uma revelação de Nick (interpretado por Frank Dillane) no final da primeira temporada em que admite viver no seu próprio apocalipse como toxicodependente e que as outras pessoas estão agora a começar a aperceber-se. Qual a importância deste facto no desenvolvimento da personagem na segunda temporada?

É uma grande parte do seu desenvolvimento. No final da última temporada, Nick tem, essencialmente, um momento de clareza. Ele vê o mundo a desmoronar-se e, pela primeira vez está livre de drogas. Ele apercebe-se que é alguém que deveria ter morrido várias vezes na sua vida anterior e agora tem de perguntar a si próprio como e porque sobreviveu.

– Os infetados em “Fear” estão num estado menos deteriorado do que os zombies em “Walking Dead”. Como é que isto afeta a forma das personagens reagirem a eles?

Bem, nós vamos mais à frente na segunda temporada, por isso eles já se deterioraram e atrofiaram um pouco mais. Existem também outros factos e elementos. Estamos em água salgada no oceano e debaixo de um sol abrasador. Por isso, assistem a uma progressão no seu aspeto, mas, fundamentalmente, eles acabaram de se tornar os infetados e é muito difícil abater algum deles. Emocionalmente, isso tem o seu preço. Na verdade, estamos a humanizar a morte, e queremos continuar a mostrar o peso e a pressão das nossas personagens quando elas despacharam estas “pessoas”.

fear the walking dead zombie ofelia

– Porque é tão importante que os infetados não se tornem apenas “carne para canhão”?

O que é realmente interessante é que é possível projetar ansiedades, fobias ou algum outro medo nos mortos-vivos. No caso dos zombies, isto permite que tenhas a possibilidade de matar os teus medos. Acho mesmo que existe aqui uma espécie de catarse, na medida em que possibilita que termines, de uma forma permanente, com todas as coisas que odeias e tudo aquilo que te mantém acordado durante a noite.

– Como foi filmar no México?

Bem, no set de filmagens em Baja temos uma equipa que é parte americana, ao lado de técnicos e artistas que vieram da Cidade do México, e vários colegas que estão a trabalhar localmente, em Baja. Foi uma produção gigante e, tanto quanto me lembro, em televisão, nunca foi feito nada antes com esta dimensão. Era um terreno novo para todos nós, argumentistas, realizadores, para todos os produtores e envolvidos. É, de facto, um sentimento muito compensador constatar que vamos dar à audiência uma experiência que nunca teve antes.

– Há mais alguma coisa que queira partilhar com os fãs sobre a nova temporada?

Acho que a questão mais intrigante é: todos sabemos que vamos estar num barco porque vimos isso no final da última temporada mas… para onde vão as personagens?

Penso que rapidamente perceberemos que o oceano não é mais seguro do que a terra e de que existe um diferente nível de adversidade e ameaça no mar. Isso força as personagens a focarem-se num destino. Mas qual será? A norte de Vancouver ou a sul do Cabo? Isto é um barco que tem uma capacidade incrível e um tanque cheio de gasolina, então, eles poderiam sair do Pacífico, percorrendo mais de 3000 milhas de distância ou até chegar ao Hawai. Nós podíamos até terminar com zombies no paraíso! (Risos).

Esta é a questão intrigante dos primeiros episódios da nova temporada, qual o porto que as personagens vão encontrar e como é que chegam até lá, será seguro ou não?

Com o slogan “Nenhum porto é seguro“, mostramo-vos pela primeira vez o poster oficial da série.